A partir da leitura dos textos abaixo, redija uma dissertação em prosa sobre o tema:
Brasil: afinal, qual a sua verdadeira identidade?
A imagem do Brasil
Quando John Lennon foi assassinado em Nova York, ninguém colocou a culpa nos EUA. A morte do maior de todos os ídolos da música naquele momento foi jogada exclusivamente em cima de um fanático louco. Agora, quando assaltantes mataram o herói neozelandês Peter Blake, em Macapá, o mundo inteiro se levanta contra um crime brasileiro. Porque esse crime é parte de uma imagem negativa que tem o Brasil nos dias de hoje.
A morte do navegador neozelandês não foi ato de fanáticos loucos, mas de assaltantes e não é um fato isolado em um país conturbado pela violência em todas as suas formas, com mortes nas ruas, linchamentos constantes, chacina. Não é a primeira vez que isso ocorre.
No século XIX, quando um brasileiro ia à Europa, era visto como escravocrata; hoje, tenha ou não culpa, cada brasileiro é visto como queimador de florestas da Amazônia, assassino de crianças na Candelária e de presos em Carandiru, como representante de um país com maior violência urbana e maior concentração da renda.
Em alguns países da Europa, o Brasil é visto como o país do turismo sexual, com destaque para o abuso contra crianças. Da mesma maneira como o mundo hoje se pergunta por que somos tão violentos a ponto de assassinarmos um velejador, eles se perguntam como é possível receber semanalmente aviões com turistas que procuram o Brasil como se fosse uma zona de prostituição de menores.
Tudo fruto de um modelo equivocado de desenvolvimento, que ao longo de décadas definiu a riqueza material como o objetivo central da sociedade, que promoveu a chamada lei de Gerson, que concentrou a renda, que abandonou os investimentos sociais, que endividou o país e as pessoas, que tolerou a contravenção, a corrupção, que quebrou os valores tradicionais, que urbanizou-se antes de criar as condições necessárias nas cidades. Um país que escolheu um caminho onde apenas uma parte se incorporava na sociedade e o resto ficava excluído, à margem da riqueza, insuflado pela maldade do modelo para fazer suas próprias maldades.
Cada vez que tomamos conhecimento de atos que nos envergonham, como o desta semana, ficamos indignados durante alguns dias e depois esquecemos. Foi assim com o assassinato dos meninos na Candelária, dos presos em Carandiru, dos mortos por causa da hemodiálise em Caruaru, do menino que perdeu um olho e depois o outro trabalhando no sisal, de um homem que cortou o braço para receber seguro, de um jovem chamado Sandro, que seqüestrou um ônibus no Rio de Janeiro, de cada linchamento ou chacina. Durante um dia lembramos do assunto, mas, de tão acostumados com essas tragédias, elas entram na rotina da banalização e nós esquecemos. O resto do mundo, entretanto, não esquece.
Recentemente, o presidente da República considerou um grande feito ter falado no Parlamento francês. Os deputados daquele país ouviram atentamente, até podem ter simpatizado com a articulação do discurso feito, mas no fundo eles lembravam que aquele senhor representava um país que assassina crianças e nega boas escolas às sobreviventes, um senhor cujo país tem violência e prostituição infantil. Essa imagem não será abolida por meio de discursos.
Para que o Brasil passe a ter uma boa imagem no exterior precisamos mudar a realidade, repetir o gesto da libertação dos escravos, fazendo desta vez uma segunda abolição: a abolição da pobreza. A garantia de que ninguém neste país deixará de ter acesso aos bens e serviços essenciais — comida de que precisa, uma escola de qualidade, um eficiente sistema de saúde, transporte público e um lugar onde morar com água potável, coleta de lixo e esgoto. Isso é possível.
Bastaria, em primeiro lugar, que a indignação diante do assassinato de um herói mundial, velejador e ecologista estrangeiro durasse o tempo que fosse necessário e se ampliasse para incluir nossa indignação também com a desigualdade social de nosso país. E, sobretudo, que cada um de nós assumisse sua parcela de culpa pelo tipo de país que estamos construindo. Foi um grupo de bandidos que assaltou e matou Peter Blake, no Amapá, mas cada um de nós é responsável pelos crimes de cada brasileiro e, sobretudo, pelos fatos que vão degradando nossa imagem diante de nossos olhos e dos olhos dos demais povos do mundo.
Somos nós que, ano após ano, convivemos com um modelo social fabricante de bandidos. Somos nós que, eleição após eleição, elegemos o mesmo tipo de dirigentes insensíveis aos problemas nacionais, aos equívocos nacionais, achando que bonitos discursos mudam a realidade.
Já não temos o que fazer para nos redimir diante de Peter Blake, ou de tantas outras vítimas da visível violência urbana ou da silenciosa maldade social, mas podemos prestar-lhes uma homenagem, fazendo com que suas mortes e sofrimentos não tenham sido em vão, e despertarmos para a necessidade de mudar o Brasil real, para que sua imagem mude também. Diante do mundo e dentro de cada um de nós.
Cristovam Buarque, professor da UnB, autor do livro Admirável Mundo Atual. Extraído de www.nepet.ufsc.br
A morte do navegador neozelandês não foi ato de fanáticos loucos, mas de assaltantes e não é um fato isolado em um país conturbado pela violência em todas as suas formas, com mortes nas ruas, linchamentos constantes, chacina. Não é a primeira vez que isso ocorre.
No século XIX, quando um brasileiro ia à Europa, era visto como escravocrata; hoje, tenha ou não culpa, cada brasileiro é visto como queimador de florestas da Amazônia, assassino de crianças na Candelária e de presos em Carandiru, como representante de um país com maior violência urbana e maior concentração da renda.
Em alguns países da Europa, o Brasil é visto como o país do turismo sexual, com destaque para o abuso contra crianças. Da mesma maneira como o mundo hoje se pergunta por que somos tão violentos a ponto de assassinarmos um velejador, eles se perguntam como é possível receber semanalmente aviões com turistas que procuram o Brasil como se fosse uma zona de prostituição de menores.
Tudo fruto de um modelo equivocado de desenvolvimento, que ao longo de décadas definiu a riqueza material como o objetivo central da sociedade, que promoveu a chamada lei de Gerson, que concentrou a renda, que abandonou os investimentos sociais, que endividou o país e as pessoas, que tolerou a contravenção, a corrupção, que quebrou os valores tradicionais, que urbanizou-se antes de criar as condições necessárias nas cidades. Um país que escolheu um caminho onde apenas uma parte se incorporava na sociedade e o resto ficava excluído, à margem da riqueza, insuflado pela maldade do modelo para fazer suas próprias maldades.
Cada vez que tomamos conhecimento de atos que nos envergonham, como o desta semana, ficamos indignados durante alguns dias e depois esquecemos. Foi assim com o assassinato dos meninos na Candelária, dos presos em Carandiru, dos mortos por causa da hemodiálise em Caruaru, do menino que perdeu um olho e depois o outro trabalhando no sisal, de um homem que cortou o braço para receber seguro, de um jovem chamado Sandro, que seqüestrou um ônibus no Rio de Janeiro, de cada linchamento ou chacina. Durante um dia lembramos do assunto, mas, de tão acostumados com essas tragédias, elas entram na rotina da banalização e nós esquecemos. O resto do mundo, entretanto, não esquece.
Recentemente, o presidente da República considerou um grande feito ter falado no Parlamento francês. Os deputados daquele país ouviram atentamente, até podem ter simpatizado com a articulação do discurso feito, mas no fundo eles lembravam que aquele senhor representava um país que assassina crianças e nega boas escolas às sobreviventes, um senhor cujo país tem violência e prostituição infantil. Essa imagem não será abolida por meio de discursos.
Para que o Brasil passe a ter uma boa imagem no exterior precisamos mudar a realidade, repetir o gesto da libertação dos escravos, fazendo desta vez uma segunda abolição: a abolição da pobreza. A garantia de que ninguém neste país deixará de ter acesso aos bens e serviços essenciais — comida de que precisa, uma escola de qualidade, um eficiente sistema de saúde, transporte público e um lugar onde morar com água potável, coleta de lixo e esgoto. Isso é possível.
Bastaria, em primeiro lugar, que a indignação diante do assassinato de um herói mundial, velejador e ecologista estrangeiro durasse o tempo que fosse necessário e se ampliasse para incluir nossa indignação também com a desigualdade social de nosso país. E, sobretudo, que cada um de nós assumisse sua parcela de culpa pelo tipo de país que estamos construindo. Foi um grupo de bandidos que assaltou e matou Peter Blake, no Amapá, mas cada um de nós é responsável pelos crimes de cada brasileiro e, sobretudo, pelos fatos que vão degradando nossa imagem diante de nossos olhos e dos olhos dos demais povos do mundo.
Somos nós que, ano após ano, convivemos com um modelo social fabricante de bandidos. Somos nós que, eleição após eleição, elegemos o mesmo tipo de dirigentes insensíveis aos problemas nacionais, aos equívocos nacionais, achando que bonitos discursos mudam a realidade.
Já não temos o que fazer para nos redimir diante de Peter Blake, ou de tantas outras vítimas da visível violência urbana ou da silenciosa maldade social, mas podemos prestar-lhes uma homenagem, fazendo com que suas mortes e sofrimentos não tenham sido em vão, e despertarmos para a necessidade de mudar o Brasil real, para que sua imagem mude também. Diante do mundo e dentro de cada um de nós.
Cristovam Buarque, professor da UnB, autor do livro Admirável Mundo Atual. Extraído de www.nepet.ufsc.br
O Brasil no exterior é futebol e carnaval
Anônimo - segunda-feira, 29/11/2004 - 09:50
Antes de eu vir para a Europa pela primeira vez, em 1998, eu ficava indignado quando a imagem do Brasil no exterior era composta basicamente por dois itens: futebol e carnaval. Achava que todo mundo deveria saber que o Brasil, além de bom futebol e excelente carnaval, tem uma indústria de manufatura vigorosa, exporta aviões, produz 95% do petróleo que consome, tem um setor de agronegócios competitivo, tem uma cultura própria rica, um povo alegre. Enfim, a lista de coisas para orgulhar-se do nosso país é grande. Mas o país sempre é lembrado pelo futebol e carnaval.
Em 1998 eu e um amigo viemos para a Europa para uma viagem de mochila por um mês. Quando chegávamos nos albergues, bares e restaurantes geralmente éramos atendidos com uma certa frieza. Eu e meu amigo estávamos desconfiados do motivo desse tratramento. Lá pela 2ª semana de viagem, na França, descobrimos que estávamos sendo confundidos com turistas americanos. O motivo era simples: estávamos viajando em junho, época de férias nas escolas dos EUA e, falando um inglês razoável, passávamos por estudantes americanos em férias. Começamos a nos identificar como brazucas. Aí mudou o tratamento que geralmente começava com um sorriso dizendo "ah, Brasil!" e a conversa continuava com uma pergunta sobre um jogador brasileiro ou um com palpite sobre a Copa do Mundo que estava para começar em 2 semanas.
A partir daí comecei a mudar minha idéia sobre o futebol. Hoje acho que é muito bom ser conhecido como o país do futebol e do carnaval. O futebol e o carnaval são coisas alegres, com emoção e que reúnem as pessoas em torno de uma mesma paixão. Não somos conhecidos por invadir países no oriente médio, pelo tráfico de drogas, ou por tentar dominar o mundo através de doutrinas totalitárias. Somos conhecidos pela bola, pela alegria de fazer um gol, pelo Pelé, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká...
O escritor e viajante gaúcho Airton Ortiz, que fez viagens por lugares não convencionais como Alaska, Índia, Tibet e África, conta em seus livros que sempre leva algumas camisas "amarelinhas" da seleção brasileira para presentear amigos que faz em suas viagens. Segundo Ortiz, o presente é um sucesso absoluto. Numa de suas viagens, ele teve problemas para atravessar a fronteira de Lesotho com a África do Sul. Depois que presenteou o fiscal da fronteira com uma camiseta amarelinha e disse que era amigo do Pelé, ele pode seguir viagem tranquilo.
Aqui em Londres foi feita uma pesquisa pela Revista Leros (http://www.leros.co.uk/), uma publicação brasileira em Londres, onde foi feita a pergunta "Qual é a primeira coisa que lhe vem na cabeça quando você ouve a palavras Brasil?" As respostas foram futebol com 51%, carnaval com 20% e "país exótico e tropical" com 9%. Violência ficou em 4º lugar com apenas 7%. Para os mais sérios, o futebol em 1º lugar com 52% das respostas pode ser motivo de preocupação, para mim é motivo de alegria: GOLAÇO BRASIL!!!
Antes de eu vir para a Europa pela primeira vez, em 1998, eu ficava indignado quando a imagem do Brasil no exterior era composta basicamente por dois itens: futebol e carnaval. Achava que todo mundo deveria saber que o Brasil, além de bom futebol e excelente carnaval, tem uma indústria de manufatura vigorosa, exporta aviões, produz 95% do petróleo que consome, tem um setor de agronegócios competitivo, tem uma cultura própria rica, um povo alegre. Enfim, a lista de coisas para orgulhar-se do nosso país é grande. Mas o país sempre é lembrado pelo futebol e carnaval.
Em 1998 eu e um amigo viemos para a Europa para uma viagem de mochila por um mês. Quando chegávamos nos albergues, bares e restaurantes geralmente éramos atendidos com uma certa frieza. Eu e meu amigo estávamos desconfiados do motivo desse tratramento. Lá pela 2ª semana de viagem, na França, descobrimos que estávamos sendo confundidos com turistas americanos. O motivo era simples: estávamos viajando em junho, época de férias nas escolas dos EUA e, falando um inglês razoável, passávamos por estudantes americanos em férias. Começamos a nos identificar como brazucas. Aí mudou o tratamento que geralmente começava com um sorriso dizendo "ah, Brasil!" e a conversa continuava com uma pergunta sobre um jogador brasileiro ou um com palpite sobre a Copa do Mundo que estava para começar em 2 semanas.
A partir daí comecei a mudar minha idéia sobre o futebol. Hoje acho que é muito bom ser conhecido como o país do futebol e do carnaval. O futebol e o carnaval são coisas alegres, com emoção e que reúnem as pessoas em torno de uma mesma paixão. Não somos conhecidos por invadir países no oriente médio, pelo tráfico de drogas, ou por tentar dominar o mundo através de doutrinas totalitárias. Somos conhecidos pela bola, pela alegria de fazer um gol, pelo Pelé, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká...
O escritor e viajante gaúcho Airton Ortiz, que fez viagens por lugares não convencionais como Alaska, Índia, Tibet e África, conta em seus livros que sempre leva algumas camisas "amarelinhas" da seleção brasileira para presentear amigos que faz em suas viagens. Segundo Ortiz, o presente é um sucesso absoluto. Numa de suas viagens, ele teve problemas para atravessar a fronteira de Lesotho com a África do Sul. Depois que presenteou o fiscal da fronteira com uma camiseta amarelinha e disse que era amigo do Pelé, ele pode seguir viagem tranquilo.
Aqui em Londres foi feita uma pesquisa pela Revista Leros (http://www.leros.co.uk/), uma publicação brasileira em Londres, onde foi feita a pergunta "Qual é a primeira coisa que lhe vem na cabeça quando você ouve a palavras Brasil?" As respostas foram futebol com 51%, carnaval com 20% e "país exótico e tropical" com 9%. Violência ficou em 4º lugar com apenas 7%. Para os mais sérios, o futebol em 1º lugar com 52% das respostas pode ser motivo de preocupação, para mim é motivo de alegria: GOLAÇO BRASIL!!!
2 comentários:
não tinha uma proposta maior não ? -- ' isouaiosuaiousao
Muito bom. Adorei seu blog!! Sou professora de Língua Portuguesa também!
Grande abraço!
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